terça-feira, 31 de maio de 2011

DA FUNDAÇÃO DA ACADEMIA DE LETRAS DE SANTO AMARO

Às vinte horas do dia 05/07/96 reuniram-se na Avenida Ferreira Bandeira número 205, nesta cidade de Santo Amaro, os intelectuais Yvan Argolo, Antônio Monteiro de Mesquita, Raymundo de Salles Brasil, Elvira de Araújo Queiroz, Zilda Costa Paim, Édio Pereira de Souza e Maria Mutti, sendo votada e aprovada a fundação desta Academia de Letras de Santo Amaro, por 05 votos a 02, sendo votos vencidos o Dr. Édio Pereira de Souza e a Professora Maria Mutti. Posteriormente, contudo, o Dr. Édio Pereira de Souza reconsiderou a sua posição, terminando por aderir ao movimento. Ainda nesta mesma noite registrou-se, a 05 minutos do término do encontro, a presença do intelectual Nelson Elias Esmeraldo, que, justamente em função do seu atraso, não teve nenhuma participação na histórica deliberação ali tornada. Finalmente, às 20±s do dia 15 de novembro de 1996 foi instalada, solenemente, a Academia de Letras de Santo Amaro, no Plenário da Câmara de Vereadores desta Leal & Benemérita cidade, sendo a Mesa Diretora dos trabalhos composta pelo Presidente Yvan Argolo, pelo Primeiro-Secretário Raimundo José dos Santos, pelo Segundo-Secretário João Rodrigues Lima Filho, pelo Jornalista Jorge Calmon Moniz de Bittencourt; pelo Presidente da Associação Baiana das Empresas de Rádio e Televisão, Sr. Fernando Henrique Batista Chagas; pelos atual e ex-Presidentes da Academia Feirense de Letras -respectivamente Acadêmicos Franklin Machado e Benjamim Batista; pela representante da Academia Conquistense de Letras, Acadêmica Eliane Gusmão; pelo casal Carlos o Lucila Trzan; pelo Sr. Enéas do Carmo, na condição de representante do Prefeito João Roberto Pereira de Melo: pelos Vereadores Francisco Porto e Maurício Dias Pereira; e pelo Sr. Alfeu Moreira, na condição de representante dos Clubes de Serviço da cidade.


Ao iniciar a Sessão, o Presidente Yvan Argolo dirigiu aos presentes as seguintes palavras:


“Senhoras e Senhores.

Antes de darmos início aos nossos trabalhos propriamente ditos, gostaria apenas de enfatizar dois únicos pontos:

1.) Que a Literatura se apóia em duas vertentes distintas, mas que ocupam as extremidades de um mesmo espectro - o autor e o leitor. De modo que as letras dependem igualmente tanto de um quanto de outro, estando ambos habilitados, dessa forma, a integrar este Sodalício.

2.) Que esta Academia de Letras que ora está sendo instalada, é um desdobramento natural de um processo cultural que remonta ao século passado, e como tal está surgindo com pelo menos cinqüenta anos de atraso, atraso este plenamente justificado pela falência da nossa outrora pujante economia canavieira. De sorte que todos aqueles que, de um modo ou de outro contribuíram para o engrandecimento das nossas letras nestes últimos anos, contribuíram também e conseqüentemente para esta Academia de Letras, habilitando-se com plena e total legitimidade aos títulos de Sócios Honorários e Sócios Beneméritos que, neste momento, passamos a lhes outorgar. Muito obrigado.”

Depois de empossados e diplomados os Sócios Honorários, Beneméritos e Efetivos presentes, o Presidente Yvan Argolo convidou o Acadêmico Sebastião Pereira para saudar o Jornalista Jorge Calmon - na condição, este último, de mentor intelectual da Academia de Letras de Santo Amaro. Assim pronunciou-se o Acadêmico Sebastião Dias Pereira:


“O destino propiciou e reservou o dia de hoje, 15 de novembro, data da Proclamação da República, marco histórico do País, como forma de registrar com tintas indeléveis a instalação da Academia de Letras de Santo Amaro.

O turbilhão de emoções (orgulhosas diga-se de passagem) que me envolvem, poderia, bem sei, ser melhor representado por outro conterrâneo, o que vale dizer, por outro santamarense. Quis o destino, porém, que ficasse comigo esta meritória missão e, de pronto, abracei-a sem julgar a desvalia de meus méritos intelectuais, saudar um dos homenageados desta noite, o Jornalista, o Acadêmico, o Professor, o Intelectual e sobretudo o amigo Jorge Calmon, na entrega do título de Sócio Honorário da Academia de Letras de Santo Amaro.

Neste exato momento, senhor Dr. Jorge Calmon e Senhores Santamarenses, casam-se em harmonia plena e perfeita, o tradicional comportamento desta Casa, de tantas gloriosas passagens assinaladas pela História, que jamais genuflexou a espinha de seu caráter para cometimento de atos bajulatórios ou o reverenciamento aos poderosos e prepotentes de todos os matizes, para só praticar, como agora o faz, atos maiores, que recebam sempre, os aplausos do povo e o carimbo da História.

Aqui, tudo fluiu com os ditames das tradições deste querido Santo Amaro que, embora e continuamente tenha se descaracterizado no progresso, doura-se mais e com mais rutilância, na nobre galeria de seus filhos ilustres. Santo amaro, pelo que ostenta e pelo que tem, pela força intelectual de seus filhos, afirmo sem medo de contestação, seria ainda maior se o tivesse como filho também. A vida Dr. Jorge Calmon, breve ou longa, segundo os desígnios de Deus, é sempre uma caminhada árdua e difícil. ‘Viver é Lutar’. É verso conhecido. Há porém, entre vida e luta, a mesma conexão existente entre asa e vôo. Mas viver não é apenas existir. Até as coisas existem. Ser é criar. É construir. É renovar. Por isso, o símile da vida não pode ser a palmeira, apesar de sua sombra. É o rio por força de seu curso e de suas cataratas. Já dizia o saudoso e lapidar Tristão de Ataíde: ‘Somente a vida bem vivida pode ensinar a viver’. Ela sim. É a grande mestra. E foi assim, bem dentro dela, acompanhando-a, analisando-a, que se projetou, imperturbável, a figura altaneira de Jorge Calmon. Sem alardes, sem perturbações, soube ajustar-se ao pensamento magistral do Professor Edmundo Blundi: ‘Jamais pensei que as estrelas estivessem mortas, só porque o céu estava nublado’. Nasceu com o dom de realizar, de plantar. E plantou muito e plantou bem. Se plantar é um gesto de coragem, colher é um ato de fé. O que importa é a seara ainda que sejam outros os que dela se beneficiem. As flores nem sempre são do jardineiro. O importante é que as haja para embelezarem o mundo, traduzirem o amor e enfeitarem a paisagem. Sem o comportamento pernóstico de alguns exibidores de erudição, sinto-me obrigado a citar o pensamento de um Santo, nada mais nada menos que o Padre Antônio Vieira, quando há 300 anos atrás afirmou. ‘Uma coisa é o soldado, outra coisa, o que peleja’. Por isso mesmo e bem ajustado ao sábio pensamento de Vieira, Dr. Jorge Calmon, ainda agora, vem de plantar uma semente, que regada pelo puro idealismo deste povo, que nunca deixou acreditar, será germe, será árvore e será fruto também. A Academia de Letras de Santo Amaro, pela excelência de seus filhos, tenho certeza, dará frutos ótimos fazendo notáveis e extraordinários filhos que estão a tremular no mastro dourado da literatura brasileira, a exemplo de: Prado Valadares. Sérgio Cardoso, Arlindo Fragoso - que fundou a Academia de Letras da Bahia -, Wanderley Pinho, Nestor Oliveira, Heitor Dias, José Silveira e tantos outros. Esta Academia, senhores, há de ser também um instrumento de aglutinação, de reflexão e alavancagem, para o desenvolvimento de Santo Amaro, contando com a participação indispensável da juventude e dos demais segmentos desta terra tão rica, de solo, subsolo e de filhos generosos.

Que me perdoe o ilustre homenageado e também os santamarenses, se não os representei com o valor que merecem. Só uma coisa pode sintetizar meu término. Muito obrigado Dr. Jorge Calmon. Santo Amaro abraça-o e abençoa-o.”


Em seguida, convidou o Acadêmico Édio Pereira de Souza para fazer uma retrospectiva da atividade cultural santamarense. Assim disse o Acadêmico Édio Pereira de Souza:


“Sejam as minhas primeiras palavras dirigidas à mudez eloqüente destas paredes ancestrais que abrigaram a assembléia conspiratória de 14 de Junho de 1822 com a sua corajosa plêiade de homens bons da terra responsáveis por uma tomada de atitude que resultou na precipitação da marcha dos acontecimentos políticos dos quais se originou a luta da independência da Bahia e, conseqüentemente, a vitória e a consolidação da autonomia política do Brasil face ao secular domínio português.

Tomem, os senhores presentes, estas minhas palavras iniciais como um Salmo rezado aqui neste avoengo templo de civismo, em ação de glória à nossa Mãe Liberdade aparecida sob o céu dos altiplanos e costeiros dos mares do Recôncavo, em 1823.

A Academia de Letras de Santo Amaro havendo encontrado acolhida aqui neste recinto tão caro à nossa História e à nossa gente, interpreto-a como primícias de bons augúrios neste seu primeiro passo com que se aventura a caminhar a longa estrada que principia aqui, e no momento em que todos nós acabamos de assumir os compromissos de honrar as tradições de cultura da nossa terra, a mais valiosa e inalienável herança que recebemos dos nossos antepassados.

Poucas cidades, diga-se de passagem (mas sem intenção de melindrar sensibilidades), poucas cidades podem-se orgulhar ou se envaidecer mais do que esta nossa, reconhecida corno Leal & Benemérita, de possuir um acervo, não digo igual, mas nunca superior ao nosso em tradição, cultura e serviços prestados à nossa velha Bahia.

Em nossa História temos mártir (Manoel Faustino dos Santos Lyra); herói (Sergy); cientistas (Gustavo D’Utra, Augusto Chaves Batista, Leôncio Pinto, etc.); poetas (Vila Viçosa, João Moniz, Aloísio Oliveira, etc.); polígrafos (Teodoro Sampaio, Manoel Querino, etc.); políticos (Saraiva, João Ferreira de Araújo Pinho, Paranhos, Pedro Lago, etc.); e muito mais em todas as atividades superiores do engenho e inteligência humana sem exclusão das artes plásticas, agora entrelaçando-se o passado com o presente (Pedro Perreira, Manoel Francisco Bonfim, Heitor Santos, Emanuel Araújo, etc.) na música (Osório, Domingos Farias Machado, Caetano Veloso, etc.) e, sem querer deixar no esquecimento, por fazerem parte da nossa paisagem humana, os nossos tipos populares, figuras notáveis, povoadores da nossa memória, da nossa galeria folclórica e da nossa complacente ternura: Maria Pé-no-Mato, Maria Tábua, Narigueta, Prof. Chuchu, Muriçoca, João Pacote, Lig-Lig e tantos outros candidatos ao Reino da Glória, porque mansos e puros - minha gente gorkiana - , sem faltar os heróis populares, os mestres da luta marcial da capoeira: Dendê, Cobrinha Verde, Mansinho, Gurinhatá, Paulo Barroquinha, Popó, sem deixar de fora o mestre Besouro, talvez o mais afamado e até povoador das páginas imortais do nosso velho Jorge Amado.

Entendo que uma Academia de Letras deve de ser uma casa de estudo, de reflexão, de troca de experiências, de ação social constante responsável na tentação e coordenação das atividades culturais.

Ela há-de ser, também, um organismo vivo e atuante, não um clube de esnobes, impermeável e rarefeito reduto de urna casta de privilegiados. Diria, em síntese, uma academia é que nem uma tenda uma oficina se trabalho intelectual destinada ao zelo do patrimônio lítero-cultural de uma sociedade contida numa comuna, englobada numa região ou generalizada numa nação Inteira. Nela se deve cultuar os valores do passado e do presente, as tradições do povo, o folclore, o patrimônio Artístico em todas as suas formas de expressão - literária, pictórica e musical - definidoras do sentimento popular e da alma do burgo - esta, sim, imortal, porque assentada e estruturada nos hábitos e costumes da nossa gente.

Nossa terra, ontem, com dimensão territorial de um estado ou nação - ‘Nação da Cana’, como docemente a denominou Clovis Amorim -, hoje sobrevive dentro de parcos limites territoriais que não minguaram mais por força de ato presidencial que abortou a conspiração geral e eleitoreira que por aqui, subrepticiamente, pretendia reduzir os limites do nosso velho município à sua periferia urbana ou seja a uma cidadela. Pouco importa que houvesse acontecido isso; ficaríamos mais pobres, mas mesmo assim o nosso passado histórico continuaria milionário, e não nos faltaria inspiração para enfrentarmos o futuro.

Estaremos sempre juntos a partir de agora, e, por certo, voltaremos a solicitar guarida, como neste momento solicitamos a esta Casa do Povo, senhores Edis aqui presentes, quando menos até adquirirmos o nosso próprio espaço onde possamos vir fazer reuniões como esta.

Viemos com vontade de ficar. Precisamos morar para melhor enfrentarmos o nosso tempo que aqui desponta. Não sonhamos com outra coisa senão com uma vida longa para a Instituição que acabamos de instalar. O nosso escopo é o nosso compromisso com Santo Amaro porque ele, e só ele, é imortal.

Esta Academia é produto de duas teimosias, sem o concurso das quais esta pompa de hoje não se realizaria.

Sem rodeios, presto aqui o meu testemunho.

Este Sodalício deve a Jorge Calmon a idéia e o estímulo constante à sua fundação.

A Yvan Argolo deve a ação, a obstinação, a tenacidade, a vontade de fazer.

Chamo-o, às vezes, de o Balzac do Recôncavo, não só pela sua capacidade de produzir seguidamente, um após outro, romances com uma boa dose do espírito do gênio da Tourène, mas como aquele extraordinário operário das letras francesas, com parecida capacidade de estereotipar a sociedade em que vive, guardadas as devidas proporções, é claro, fazendo a crônica mundana e social com o pitoresco, o drama, a miséria, a virtude e a imperfeição do seu semelhante, dos seus concidadãos. Foi o que Balzac fez, e talvez por ironia ou a querer amenizar o tom realista e sarcástico da sua obra imortal e imensa ele tenha chamado o conjunto dos seus romances de ‘A Comédia Humana’, que é muito mais para chorar do que para rir.

Argolo fornece nos seus dez livros copiosos subsídios aos futuros sociólogos estudiosos da sociedade do Recôncavo que queiram garimpar no período relativamente longo de quase um século. Aliás, no seu romance ‘Ave Caesar!’ ele vai mais além quando procura trincar a fase histórico-social relativa ao período anterior e posterior à guerra da independência da Bahia.

Tive a honra de prefaciar esse romance e o prazer de, nessa oportunidade, declarar: ‘A caatinga teve o seu Vargas Llosa, atraindo-o de muito longe para escrever a sua epopéia; o massapê, solo fecundo e inesgotável, fez eclodir o seu próprio aedo para resgatar da penumbra do tempo uma surpreendente visão do seu passado’.

Yvan Argolo, o nosso presidente, aqui em pleno exercício da sua função, se quiser pode até nada mais escrever o que nem lhe furtará o privilégio, pelo mérito, enfatize-se, ao certo de permanecer à frente da ALSA como um presidente vitalício. Ele possui, para isso, carisma e incisiva liderança. Esta é uma proposição que faço aqui, por inspiração deste ambiente, aos confrades presentes com a mais tranqüila das intenções e sem quaisquer resquícios de contrafação ou puxa-saquismo. Veio-me a idéia ao correr da pena (não escrevo à máquina - não é portanto frase feita), veio-me a idéia, repito, assim naturalmente e não irei querer silenciá-la. Ela vale como a minha homenagem à sua capacidade de aglutinação aliada à sua obstinada força de vontade.

A segunda teimosia, a de Jorge Calmon, o eminente intelectual aqui presente, está patenteada pela sua própria presença agora entre nós, como a ter vindo só para ver se a semente da sua idéia caíra em terra sáfara ou promete rebentar pujante numa promessa de ser árvore frondosa, mas, também frutífera.

O confrade Sebastião Dias já festejou precisa e eloqüentemente a sua carreira e a sua obra, ambas admiráveis e preciosas. Homem de muitos títulos valorosos, para mim, posso até estar errado, ele talvez só se envaideça de um só mais que dos outros - o menos pomposo e que lhe deve ter consumido, impiedosa e avaramente, o melhor das suas energias; perturbado os momentos mais suaves do seu ócio e dos seus devaneios, sendo, penso ainda, o motivo maior das suas canseiras e apreensões, o ladrão do seu sono e do seu apetite, o dono dos seus temores mas também das suas muitas alegrias e sorrisos cotidianos, enfim o mais próximo e querido companheiro da sua vida - o jornalismo.

Com ele, para ele e por ele - como no rito sagrado - viveu sessenta anos e mais paralelamente vem vivendo preso à sua página 6ª, a nobre d’A Tarde, como a dizer, ‘Aqui estou e daqui ninguém me tira’. Daí eu saber onde encontrá-lo, agora todas as terças-feiras, escreva lá de onde esteja, como ontem no Oriente Próximo e há pouco, no sul da Europa. No particular essas páginas últimas escritas no exterior bem mereciam ser enfeixadas num Livro, do mesmo modo como ocorreu com aqueloutras reunidas sob o título, ‘Grã-Colombia Vista e Comentada’, obra rica e ilustrada por ‘muitas das mais representativas figuras das artes plásticas da Bahia’, e adivinhe quem encontrei entre aquelas? Emanuel Araújo, dos muitos valores que Santo Amaro tem dado ao mundo.

Mais um só detalhe, a orelha desse livro, uma de escrito, é da autoria do nosso imenso Adroaldo Costa. Isso é o que se pode bem chamar de afinidades.

Dessas últimas crônicas do Exterior (que espero vê-las resgatadas da transitoriedade das colunas de jornal) lembro uma por ser verdadeiramente deliciosa pelo enfoque do milagre do herói lusitano, D. Fuas Roupinho, peça gostosa, vazada em linguagem enxuta e com um final de mestre, sutil e machadianamente irônico ou calmonianamente mordaz.

Concluindo o que foi dito atrás, este seu apego acendrado ao jornalismo certamente lhe veio, entre muitas outras razões, também por aquelas mesmas assinaladas por outro jornalista, agora um europeu (francês e filho do grande Alphonse Daudet) de nome Leon Daudet e que diz assim ‘Não há profissão mais bela que a de jornalista; nenhuma outra exige mais talento, tato e vivacidade’. Eu tomaria a ousadia de acrescentar... e coragem.

A nossa ALSA, organizada dentro de pouco tempo, em de empossar neste ato de Instalação, 25 sócios efetivos, mas ela se constitui de 40 cadeiras (todas naturalmente com seus patronos já escolhidos) rivalizando neste particular com a mais famosa de todas os academias, a francesa, e semelhante a ela, quando também ‘não é apenas formada por homens de letras, um dos seus encantos’, segundo palavras de Paul Valèry recolhidas da citação de Cláudio Veiga, na Revista da Academia de Letras da Bahia, de número 30, editada em setembro de 1982.

Um fato curioso é que a Academia de Letras da Bahia foi criada em 1917 por iniciativa liderada por um ilustre santo-amarense, Arlindo Fragoso, engenheiro que já havia fundado a Escola Politécnica da Bahia, e esta nossa ALSA por iniciativa de um soteropolitano embora de raízes genealógicas fincadas profundamente no chão de massapê da Vila de N.S. da Purificação e Santo Amaro, que outro não e senão o mesmo distinto amigo presente, Professor Doutor Jorge Calmon Moniz de Bittencourt, o grande jornalista baiano e brasileiro - nosso confrade Honorário e irmão nosso por adoção o efeito mesmo de lei emanada desta Casa do Povo de Santo Amaro. Amor com amor se paga, é a ilação que o fato historicamente está sugerindo nos vórtices do tempo que nunca pára mas, as vezes, se repete.

Arlindo Fragoso e Jorge Calmon aqui se emparelham e se irmanam num mesmo ideal, num mesmo gesto nobilitante, e nos somos gratos aos dois, no ontem e no agora, como baianos, pelo ocorrido em 1917, como santo-amarenses, pelo que está acontecendo hoje.

Decorreram apenas 79 anos para a Academia de Letras da Bahia saldar, digamos assim, a sua dívida para com a terra do Marquês de Abrantes, e nós nos sentimos tanto mais jubilados por ela haver sido resgatada por vontade e mãos de um dos seus mais nobres descendentes, e que é, a um tempo, um dos mais legítimos representantes dela - o Acadêmico Jorge Calmon - e que nela ocupa, com muito brilho, a cadeira de número 23.

Dos 40 Patronos que compõem a ALSA, foram

Poetas: Nestor Oliveira, Vila Viçosa, Gustavo Viana, Arnaldo Ernesto Vieira, Plínio de Almeida, Raimundo Nonato de Salles Brasil, João Moniz Barreto de Aragão, Assis Valente, Arthur de Salles, João Borges de Barros, Pármenas Cerqueira, Misael Bráz Pereira, Visconde de Pedra Branca, e José Bartholomeu de Salles Brasil.

Romancistas: Sérgio Cardoso, Amélia Rodrigues, Inácio de Menezes e Clóvis Amorim.

Dramaturgo: Joviniano Barreto.

Educadores e Sacerdotes: Francisco de Salles Brasil, José Gomes Loureiro e Antenor Celino de Sonsa.

Expoentes Sociais de Valor: Cypriano Betâmio, João Evaristo de Araújo, Fernando Monteiro de Mesquita. José Gabriel de Salles Brasil e Arlindo Fragoso.

Historiógrafos: José Wanderley de Araújo Pinho e Pedro Tomás Pedreira.

Jornalistas: Adroaldo Ribeiro Costa, Luís Augusto de Castro Tupinan, Heráclio Assis de Salles, João Dácio Serra e Samuel Chaves.

Polígrafos: Manuel Querino, Teodoro Sampaio e Prado Valadares.

Estadista: Miguel Calmon de Pin e Almeida.

Folclorista: Herundino Leal e Silva Campos.


Após a enumeração dos nomes desses homens admiráveis, muitos dos quais polivalentes, pulsaram em minha lembrança as seguintes palavras conceituosas, que não me foi difícil encontrá-las para trazê-las até aqui:

‘Se morre o homem que viveu somente a vida do corpo, ele devolve à terra o que recebeu dela; mas o homem que a reflete na alma do seu semelhante e se transpõe para a celebridade, deixa na herança luminosa a eficiência póstuma da ação fertilizante e regeneradora. Do túmulo do primeiro, nenhuma luz se acende além dos fogos fátuos da decomposição. Do túmulo do segundo, a luz é duradoura e ultrapassa séculos’.

Estas palavras são de Cláudio de Sousa, médico e romancista; pertenceu à Academia Brasileira de Letras.

Desse modo ficam assinaladas as nossas homenagens a todos os nossos Patronos que daqui já se foram, mas as luzes das suas vidas, entendemos, ainda iluminam caminhos, orientam comportamentos e induzem inteligências, e são, para nós, os iniciados de há pouco - os luzeiros da nossa Academia.”