Às
vinte horas do dia 05/07/96 reuniram-se na Avenida Ferreira Bandeira
número 205, nesta cidade de Santo Amaro, os intelectuais Yvan Argolo,
Antônio Monteiro de Mesquita, Raymundo de Salles Brasil, Elvira de
Araújo Queiroz, Zilda Costa Paim, Édio Pereira de Souza e Maria Mutti,
sendo votada e aprovada a fundação desta Academia de Letras de Santo
Amaro, por 05 votos a 02, sendo votos vencidos o Dr. Édio Pereira de
Souza e a Professora Maria Mutti. Posteriormente, contudo, o Dr. Édio
Pereira de Souza reconsiderou a sua posição, terminando por aderir ao
movimento. Ainda nesta mesma noite registrou-se, a 05 minutos do término
do encontro, a presença do intelectual Nelson Elias Esmeraldo, que,
justamente em função do seu atraso, não teve nenhuma participação na
histórica deliberação ali tornada. Finalmente, às 20±s do dia 15 de
novembro de 1996 foi instalada, solenemente, a Academia de Letras de
Santo Amaro, no Plenário da Câmara de Vereadores desta Leal &
Benemérita cidade, sendo a Mesa Diretora dos trabalhos composta pelo
Presidente Yvan Argolo, pelo Primeiro-Secretário Raimundo José dos
Santos, pelo Segundo-Secretário João Rodrigues Lima Filho, pelo
Jornalista Jorge Calmon Moniz de Bittencourt; pelo Presidente da
Associação Baiana das Empresas de Rádio e Televisão, Sr. Fernando
Henrique Batista Chagas; pelos atual e ex-Presidentes da Academia
Feirense de Letras -respectivamente Acadêmicos Franklin Machado e
Benjamim Batista; pela representante da Academia Conquistense de Letras,
Acadêmica Eliane Gusmão; pelo casal Carlos o Lucila Trzan; pelo Sr.
Enéas do Carmo, na condição de representante do Prefeito João Roberto
Pereira de Melo: pelos Vereadores Francisco Porto e Maurício Dias
Pereira; e pelo Sr. Alfeu Moreira, na condição de representante dos
Clubes de Serviço da cidade.
Ao iniciar a Sessão, o Presidente Yvan Argolo dirigiu aos presentes as seguintes palavras:
“Senhoras e Senhores.
Antes de darmos início aos nossos trabalhos propriamente ditos, gostaria apenas de enfatizar dois únicos pontos:
1.)
Que a Literatura se apóia em duas vertentes distintas, mas que ocupam
as extremidades de um mesmo espectro - o autor e o leitor. De modo que
as letras dependem igualmente tanto de um quanto de outro, estando ambos
habilitados, dessa forma, a integrar este Sodalício.
2.)
Que esta Academia de Letras que ora está sendo instalada, é um
desdobramento natural de um processo cultural que remonta ao século
passado, e como tal está surgindo com pelo menos cinqüenta anos de
atraso, atraso este plenamente justificado pela falência da nossa
outrora pujante economia canavieira. De sorte que todos aqueles que, de
um modo ou de outro contribuíram para o engrandecimento das nossas
letras nestes últimos anos, contribuíram também e conseqüentemente para
esta Academia de Letras, habilitando-se com plena e total legitimidade
aos títulos de Sócios Honorários e Sócios Beneméritos que, neste
momento, passamos a lhes outorgar. Muito obrigado.”
Depois
de empossados e diplomados os Sócios Honorários, Beneméritos e Efetivos
presentes, o Presidente Yvan Argolo convidou o Acadêmico Sebastião
Pereira para saudar o Jornalista Jorge Calmon - na condição, este
último, de mentor intelectual da Academia de Letras de Santo Amaro.
Assim pronunciou-se o Acadêmico Sebastião Dias Pereira:
“O
destino propiciou e reservou o dia de hoje, 15 de novembro, data da
Proclamação da República, marco histórico do País, como forma de
registrar com tintas indeléveis a instalação da Academia de Letras de
Santo Amaro.
O
turbilhão de emoções (orgulhosas diga-se de passagem) que me envolvem,
poderia, bem sei, ser melhor representado por outro conterrâneo, o que
vale dizer, por outro santamarense. Quis o destino, porém, que ficasse
comigo esta meritória missão e, de pronto, abracei-a sem julgar a
desvalia de meus méritos intelectuais, saudar um dos homenageados desta
noite, o Jornalista, o Acadêmico, o Professor, o Intelectual e sobretudo
o amigo Jorge Calmon, na entrega do título de Sócio Honorário da
Academia de Letras de Santo Amaro.
Neste
exato momento, senhor Dr. Jorge Calmon e Senhores Santamarenses,
casam-se em harmonia plena e perfeita, o tradicional comportamento desta
Casa, de tantas gloriosas passagens assinaladas pela História, que
jamais genuflexou a espinha de seu caráter para cometimento de atos
bajulatórios ou o reverenciamento aos poderosos e prepotentes de todos
os matizes, para só praticar, como agora o faz, atos maiores, que
recebam sempre, os aplausos do povo e o carimbo da História.
Aqui,
tudo fluiu com os ditames das tradições deste querido Santo Amaro que,
embora e continuamente tenha se descaracterizado no progresso, doura-se
mais e com mais rutilância, na nobre galeria de seus filhos ilustres.
Santo amaro, pelo que ostenta e pelo que tem, pela força intelectual de
seus filhos, afirmo sem medo de contestação, seria ainda maior se o
tivesse como filho também. A vida Dr. Jorge Calmon, breve ou longa,
segundo os desígnios de Deus, é sempre uma caminhada árdua e difícil.
‘Viver é Lutar’. É verso conhecido. Há porém, entre vida e luta, a mesma
conexão existente entre asa e vôo. Mas viver não é apenas existir. Até
as coisas existem. Ser é criar. É construir. É renovar. Por isso, o
símile da vida não pode ser a palmeira, apesar de sua sombra. É o rio
por força de seu curso e de suas cataratas. Já dizia o saudoso e lapidar
Tristão de Ataíde: ‘Somente a vida bem vivida pode ensinar a viver’.
Ela sim. É a grande mestra. E foi assim, bem dentro dela,
acompanhando-a, analisando-a, que se projetou, imperturbável, a figura
altaneira de Jorge Calmon. Sem alardes, sem perturbações, soube
ajustar-se ao pensamento magistral do Professor Edmundo Blundi: ‘Jamais
pensei que as estrelas estivessem mortas, só porque o céu estava
nublado’. Nasceu com o dom de realizar, de plantar. E plantou muito e
plantou bem. Se plantar é um gesto de coragem, colher é um ato de fé. O
que importa é a seara ainda que sejam outros os que dela se beneficiem.
As flores nem sempre são do jardineiro. O importante é que as haja para
embelezarem o mundo, traduzirem o amor e enfeitarem a paisagem. Sem o
comportamento pernóstico de alguns exibidores de erudição, sinto-me
obrigado a citar o pensamento de um Santo, nada mais nada menos que o
Padre Antônio Vieira, quando há 300 anos atrás afirmou. ‘Uma coisa é o
soldado, outra coisa, o que peleja’. Por isso mesmo e bem ajustado ao
sábio pensamento de Vieira, Dr. Jorge Calmon, ainda agora, vem de
plantar uma semente, que regada pelo puro idealismo deste povo, que
nunca deixou acreditar, será germe, será árvore e será fruto também. A
Academia de Letras de Santo Amaro, pela excelência de seus filhos, tenho
certeza, dará frutos ótimos fazendo notáveis e extraordinários filhos
que estão a tremular no mastro dourado da literatura brasileira, a
exemplo de: Prado Valadares. Sérgio Cardoso, Arlindo Fragoso - que
fundou a Academia de Letras da Bahia -, Wanderley Pinho, Nestor
Oliveira, Heitor Dias, José Silveira e tantos outros. Esta Academia,
senhores, há de ser também um instrumento de aglutinação, de reflexão e
alavancagem, para o desenvolvimento de Santo Amaro, contando com a
participação indispensável da juventude e dos demais segmentos desta
terra tão rica, de solo, subsolo e de filhos generosos.
Que
me perdoe o ilustre homenageado e também os santamarenses, se não os
representei com o valor que merecem. Só uma coisa pode sintetizar meu
término. Muito obrigado Dr. Jorge Calmon. Santo Amaro abraça-o e
abençoa-o.”
Em
seguida, convidou o Acadêmico Édio Pereira de Souza para fazer uma
retrospectiva da atividade cultural santamarense. Assim disse o
Acadêmico Édio Pereira de Souza:
“Sejam
as minhas primeiras palavras dirigidas à mudez eloqüente destas paredes
ancestrais que abrigaram a assembléia conspiratória de 14 de Junho de
1822 com a sua corajosa plêiade de homens bons da terra responsáveis por
uma tomada de atitude que resultou na precipitação da marcha dos
acontecimentos políticos dos quais se originou a luta da independência
da Bahia e, conseqüentemente, a vitória e a consolidação da autonomia
política do Brasil face ao secular domínio português.
Tomem,
os senhores presentes, estas minhas palavras iniciais como um Salmo
rezado aqui neste avoengo templo de civismo, em ação de glória à nossa
Mãe Liberdade aparecida sob o céu dos altiplanos e costeiros dos mares
do Recôncavo, em 1823.
A
Academia de Letras de Santo Amaro havendo encontrado acolhida aqui
neste recinto tão caro à nossa História e à nossa gente, interpreto-a
como primícias de bons augúrios neste seu primeiro passo com que se
aventura a caminhar a longa estrada que principia aqui, e no momento em
que todos nós acabamos de assumir os compromissos de honrar as tradições
de cultura da nossa terra, a mais valiosa e inalienável herança que
recebemos dos nossos antepassados.
Poucas
cidades, diga-se de passagem (mas sem intenção de melindrar
sensibilidades), poucas cidades podem-se orgulhar ou se envaidecer mais
do que esta nossa, reconhecida corno Leal & Benemérita, de
possuir um acervo, não digo igual, mas nunca superior ao nosso em
tradição, cultura e serviços prestados à nossa velha Bahia.
Em
nossa História temos mártir (Manoel Faustino dos Santos Lyra); herói
(Sergy); cientistas (Gustavo D’Utra, Augusto Chaves Batista, Leôncio
Pinto, etc.); poetas (Vila Viçosa, João Moniz, Aloísio Oliveira, etc.);
polígrafos (Teodoro Sampaio, Manoel Querino, etc.); políticos (Saraiva,
João Ferreira de Araújo Pinho, Paranhos, Pedro Lago, etc.); e muito mais
em todas as atividades superiores do engenho e inteligência humana sem
exclusão das artes plásticas, agora entrelaçando-se o passado com o
presente (Pedro Perreira, Manoel Francisco Bonfim, Heitor Santos,
Emanuel Araújo, etc.) na música (Osório, Domingos Farias Machado,
Caetano Veloso, etc.) e, sem querer deixar no esquecimento, por fazerem
parte da nossa paisagem humana, os nossos tipos populares, figuras
notáveis, povoadores da nossa memória, da nossa galeria folclórica e da
nossa complacente ternura: Maria Pé-no-Mato, Maria Tábua, Narigueta,
Prof. Chuchu, Muriçoca, João Pacote, Lig-Lig e tantos outros candidatos
ao Reino da Glória, porque mansos e puros - minha gente gorkiana - , sem
faltar os heróis populares, os mestres da luta marcial da capoeira:
Dendê, Cobrinha Verde, Mansinho, Gurinhatá, Paulo Barroquinha, Popó, sem
deixar de fora o mestre Besouro, talvez o mais afamado e até povoador
das páginas imortais do nosso velho Jorge Amado.
Entendo
que uma Academia de Letras deve de ser uma casa de estudo, de reflexão,
de troca de experiências, de ação social constante responsável na
tentação e coordenação das atividades culturais.
Ela
há-de ser, também, um organismo vivo e atuante, não um clube de
esnobes, impermeável e rarefeito reduto de urna casta de privilegiados.
Diria, em síntese, uma academia é que nem uma tenda uma oficina se
trabalho intelectual destinada ao zelo do patrimônio lítero-cultural de
uma sociedade contida numa comuna, englobada numa região ou generalizada
numa nação Inteira. Nela se deve cultuar os valores do passado e do
presente, as tradições do povo, o folclore, o patrimônio Artístico em
todas as suas formas de expressão - literária, pictórica e musical -
definidoras do sentimento popular e da alma do burgo - esta, sim,
imortal, porque assentada e estruturada nos hábitos e costumes da nossa
gente.
Nossa
terra, ontem, com dimensão territorial de um estado ou nação - ‘Nação
da Cana’, como docemente a denominou Clovis Amorim -, hoje sobrevive
dentro de parcos limites territoriais que não minguaram mais por força
de ato presidencial que abortou a conspiração geral e eleitoreira que
por aqui, subrepticiamente, pretendia reduzir os limites do nosso velho
município à sua periferia urbana ou seja a uma cidadela. Pouco importa
que houvesse acontecido isso; ficaríamos mais pobres, mas mesmo assim o
nosso passado histórico continuaria milionário, e não nos faltaria
inspiração para enfrentarmos o futuro.
Estaremos
sempre juntos a partir de agora, e, por certo, voltaremos a solicitar
guarida, como neste momento solicitamos a esta Casa do Povo, senhores
Edis aqui presentes, quando menos até adquirirmos o nosso próprio espaço
onde possamos vir fazer reuniões como esta.
Viemos
com vontade de ficar. Precisamos morar para melhor enfrentarmos o nosso
tempo que aqui desponta. Não sonhamos com outra coisa senão com uma
vida longa para a Instituição que acabamos de instalar. O nosso escopo é
o nosso compromisso com Santo Amaro porque ele, e só ele, é imortal.
Esta Academia é produto de duas teimosias, sem o concurso das quais esta pompa de hoje não se realizaria.
Sem rodeios, presto aqui o meu testemunho.
Este Sodalício deve a Jorge Calmon a idéia e o estímulo constante à sua fundação.
A Yvan Argolo deve a ação, a obstinação, a tenacidade, a vontade de fazer.
Chamo-o,
às vezes, de o Balzac do Recôncavo, não só pela sua capacidade de
produzir seguidamente, um após outro, romances com uma boa dose do
espírito do gênio da Tourène, mas como aquele extraordinário operário
das letras francesas, com parecida capacidade de estereotipar a
sociedade em que vive, guardadas as devidas proporções, é claro, fazendo
a crônica mundana e social com o pitoresco, o drama, a miséria, a
virtude e a imperfeição do seu semelhante, dos seus concidadãos. Foi o
que Balzac fez, e talvez por ironia ou a querer amenizar o tom realista e
sarcástico da sua obra imortal e imensa ele tenha chamado o conjunto
dos seus romances de ‘A Comédia Humana’, que é muito mais para chorar do
que para rir.
Argolo
fornece nos seus dez livros copiosos subsídios aos futuros sociólogos
estudiosos da sociedade do Recôncavo que queiram garimpar no período
relativamente longo de quase um século. Aliás, no seu romance ‘Ave
Caesar!’ ele vai mais além quando procura trincar a fase
histórico-social relativa ao período anterior e posterior à guerra da
independência da Bahia.
Tive
a honra de prefaciar esse romance e o prazer de, nessa oportunidade,
declarar: ‘A caatinga teve o seu Vargas Llosa, atraindo-o de muito longe
para escrever a sua epopéia; o massapê, solo fecundo e inesgotável, fez
eclodir o seu próprio aedo para resgatar da penumbra do tempo uma
surpreendente visão do seu passado’.
Yvan
Argolo, o nosso presidente, aqui em pleno exercício da sua função, se
quiser pode até nada mais escrever o que nem lhe furtará o privilégio,
pelo mérito, enfatize-se, ao certo de permanecer à frente da ALSA como
um presidente vitalício. Ele possui, para isso, carisma e incisiva
liderança. Esta é uma proposição que faço aqui, por inspiração deste
ambiente, aos confrades presentes com a mais tranqüila das intenções e
sem quaisquer resquícios de contrafação ou puxa-saquismo. Veio-me a
idéia ao correr da pena (não escrevo à máquina - não é portanto frase
feita), veio-me a idéia, repito, assim naturalmente e não irei querer
silenciá-la. Ela vale como a minha homenagem à sua capacidade de
aglutinação aliada à sua obstinada força de vontade.
A
segunda teimosia, a de Jorge Calmon, o eminente intelectual aqui
presente, está patenteada pela sua própria presença agora entre nós,
como a ter vindo só para ver se a semente da sua idéia caíra em terra
sáfara ou promete rebentar pujante numa promessa de ser árvore frondosa,
mas, também frutífera.
O
confrade Sebastião Dias já festejou precisa e eloqüentemente a sua
carreira e a sua obra, ambas admiráveis e preciosas. Homem de muitos
títulos valorosos, para mim, posso até estar errado, ele talvez só se
envaideça de um só mais que dos outros - o menos pomposo e que lhe deve
ter consumido, impiedosa e avaramente, o melhor das suas energias;
perturbado os momentos mais suaves do seu ócio e dos seus devaneios,
sendo, penso ainda, o motivo maior das suas canseiras e apreensões, o
ladrão do seu sono e do seu apetite, o dono dos seus temores mas também
das suas muitas alegrias e sorrisos cotidianos, enfim o mais próximo e
querido companheiro da sua vida - o jornalismo.
Com
ele, para ele e por ele - como no rito sagrado - viveu sessenta anos e
mais paralelamente vem vivendo preso à sua página 6ª, a nobre d’A Tarde,
como a dizer, ‘Aqui estou e daqui ninguém me tira’. Daí eu saber onde
encontrá-lo, agora todas as terças-feiras, escreva lá de onde esteja,
como ontem no Oriente Próximo e há pouco, no sul da Europa. No
particular essas páginas últimas escritas no exterior bem mereciam ser
enfeixadas num Livro, do mesmo modo como ocorreu com aqueloutras
reunidas sob o título, ‘Grã-Colombia Vista e Comentada’, obra rica e
ilustrada por ‘muitas das mais representativas figuras das artes
plásticas da Bahia’, e adivinhe quem encontrei entre aquelas? Emanuel
Araújo, dos muitos valores que Santo Amaro tem dado ao mundo.
Mais
um só detalhe, a orelha desse livro, uma de escrito, é da autoria do
nosso imenso Adroaldo Costa. Isso é o que se pode bem chamar de
afinidades.
Dessas
últimas crônicas do Exterior (que espero vê-las resgatadas da
transitoriedade das colunas de jornal) lembro uma por ser
verdadeiramente deliciosa pelo enfoque do milagre do herói lusitano, D.
Fuas Roupinho, peça gostosa, vazada em linguagem enxuta e com um final
de mestre, sutil e machadianamente irônico ou calmonianamente mordaz.
Concluindo
o que foi dito atrás, este seu apego acendrado ao jornalismo certamente
lhe veio, entre muitas outras razões, também por aquelas mesmas
assinaladas por outro jornalista, agora um europeu (francês e filho do
grande Alphonse Daudet) de nome Leon Daudet e que diz assim ‘Não há
profissão mais bela que a de jornalista; nenhuma outra exige mais
talento, tato e vivacidade’. Eu tomaria a ousadia de acrescentar... e
coragem.
A
nossa ALSA, organizada dentro de pouco tempo, em de empossar neste ato
de Instalação, 25 sócios efetivos, mas ela se constitui de 40 cadeiras
(todas naturalmente com seus patronos já escolhidos) rivalizando neste
particular com a mais famosa de todas os academias, a francesa, e
semelhante a ela, quando também ‘não é apenas formada por homens de
letras, um dos seus encantos’, segundo palavras de Paul Valèry
recolhidas da citação de Cláudio Veiga, na Revista da Academia de Letras
da Bahia, de número 30, editada em setembro de 1982.
Um
fato curioso é que a Academia de Letras da Bahia foi criada em 1917 por
iniciativa liderada por um ilustre santo-amarense, Arlindo Fragoso,
engenheiro que já havia fundado a Escola Politécnica da Bahia, e esta
nossa ALSA por iniciativa de um soteropolitano embora de raízes
genealógicas fincadas profundamente no chão de massapê da Vila de N.S.
da Purificação e Santo Amaro, que outro não e senão o mesmo distinto
amigo presente, Professor Doutor Jorge Calmon Moniz de Bittencourt, o
grande jornalista baiano e brasileiro - nosso confrade Honorário e irmão
nosso por adoção o efeito mesmo de lei emanada desta Casa do Povo de
Santo Amaro. Amor com amor se paga, é a ilação que o fato historicamente
está sugerindo nos vórtices do tempo que nunca pára mas, as vezes, se
repete.
Arlindo
Fragoso e Jorge Calmon aqui se emparelham e se irmanam num mesmo ideal,
num mesmo gesto nobilitante, e nos somos gratos aos dois, no ontem e no
agora, como baianos, pelo ocorrido em 1917, como santo-amarenses, pelo
que está acontecendo hoje.
Decorreram
apenas 79 anos para a Academia de Letras da Bahia saldar, digamos
assim, a sua dívida para com a terra do Marquês de Abrantes, e nós nos
sentimos tanto mais jubilados por ela haver sido resgatada por vontade e
mãos de um dos seus mais nobres descendentes, e que é, a um tempo, um
dos mais legítimos representantes dela - o Acadêmico Jorge Calmon - e
que nela ocupa, com muito brilho, a cadeira de número 23.
Dos 40 Patronos que compõem a ALSA, foram
Poetas:
Nestor Oliveira, Vila Viçosa, Gustavo Viana, Arnaldo Ernesto Vieira,
Plínio de Almeida, Raimundo Nonato de Salles Brasil, João Moniz Barreto
de Aragão, Assis Valente, Arthur de Salles, João Borges de Barros,
Pármenas Cerqueira, Misael Bráz Pereira, Visconde de Pedra Branca, e
José Bartholomeu de Salles Brasil.
Romancistas: Sérgio Cardoso, Amélia Rodrigues, Inácio de Menezes e Clóvis Amorim.
Dramaturgo: Joviniano Barreto.
Educadores e Sacerdotes: Francisco de Salles Brasil, José Gomes Loureiro e Antenor Celino de Sonsa.
Expoentes
Sociais de Valor: Cypriano Betâmio, João Evaristo de Araújo, Fernando
Monteiro de Mesquita. José Gabriel de Salles Brasil e Arlindo Fragoso.
Historiógrafos: José Wanderley de Araújo Pinho e Pedro Tomás Pedreira.
Jornalistas: Adroaldo Ribeiro Costa, Luís Augusto de Castro Tupinan, Heráclio Assis de Salles, João Dácio Serra e Samuel Chaves.
Polígrafos: Manuel Querino, Teodoro Sampaio e Prado Valadares.
Estadista: Miguel Calmon de Pin e Almeida.
Folclorista: Herundino Leal e Silva Campos.
Após
a enumeração dos nomes desses homens admiráveis, muitos dos quais
polivalentes, pulsaram em minha lembrança as seguintes palavras
conceituosas, que não me foi difícil encontrá-las para trazê-las até
aqui:
‘Se
morre o homem que viveu somente a vida do corpo, ele devolve à terra o
que recebeu dela; mas o homem que a reflete na alma do seu semelhante e
se transpõe para a celebridade, deixa na herança luminosa a eficiência
póstuma da ação fertilizante e regeneradora. Do túmulo do primeiro,
nenhuma luz se acende além dos fogos fátuos da decomposição. Do túmulo
do segundo, a luz é duradoura e ultrapassa séculos’.
Estas palavras são de Cláudio de Sousa, médico e romancista; pertenceu à Academia Brasileira de Letras.
Desse
modo ficam assinaladas as nossas homenagens a todos os nossos Patronos
que daqui já se foram, mas as luzes das suas vidas, entendemos, ainda
iluminam caminhos, orientam comportamentos e induzem inteligências, e
são, para nós, os iniciados de há pouco - os luzeiros da nossa
Academia.”